Um tour pelo Soweto, na África do Sul
Ao sul de Joanesburgo, a área residencial do Soweto, que conta com o status de cidade desde 1983, foi criada como uma township. Townships eram bairros destinados aos “não brancos” e afastados do centro e subúrbios das cidades sul-africanas. Foi lá que grande parte das manifestações contra o regime do Apartheid foram realizadas, tornando o local conhecido internacionalmente. O nome Soweto é um acrônimo para “South Western Township” ou “bairros do sudoeste”.
Criado na década de 30, o Soweto teve seu crescimento acelerado depois de 1950. Foi nessa época que o regime do Apartheid forçou a realocação em massa da população negra. Os negros foram obrigados a deixar suas antigas áreas de moradia, mais próximas do centro, para ocupação pela minoria branca.
Como todas as demais “townships”, o Soweto não dispunha de vias pavimentadas, esgoto, água encanada e energia elétrica. As minúsculas casas eram construídas com um mix de folhas de metal, madeira e tijolos.
A partir de 1994, após o término do regime do Apartheid e a eleição de Nelson Mandela para presidente, Soweto passou a receber diversos investimentos públicos. Desde então, conta com ruas asfaltadas, escolas, universidades, grandes shopping centers e recebeu mais de 1.000.000 de árvores plantadas. Hoje em dia é possível encontrar desde casas ainda muito humildes até mansões por lá!
Sendo o único lugar do mundo onde teve na mesma rua dois ganhadores do Nobel da Paz, Arcebispo Desmond Tutu e Nelson Mandela, Soweto se tornou um dos destinos turísticos mais procurados da África do Sul. Por lá o visitante poderá entender melhor a importância deste bairro/cidade na luta contra o Apartheid.
Estivemos no Soweto no inicio de julho de 2017 e contaremos aqui as principais atrações deste lugar riquíssimo em história.
Héctor Pieterson Memorial e Museu
O maior museu do Soweto está localizado a duas quadras de onde o estudante de 12 anos, Héctor Pieterson, foi assassinado em 16 de junho de 1976 pela policia sul-africana durante uma manifestação estudantil.
Na época o investimento do governo no ensino do aluno branco era 15 vezes superior ao de um aluno negro. Contudo, o estopim que gerou o levante dos estudantes foi a determinação de que o africanês, língua falada majoritariamente pelos brancos, oriunda do holandês, fosse o idioma usado para ministrar as aulas também nas escolas exclusivas para negros.
Os estudantes portando cartazes e placas contra o uso do africanês nas escolas e pedindo maior liberdade para comunidade negra, pretendiam se encontrar em frente ao Orlando Stadium. De lá seguiriam em marcha para o escritório da autoridade local de educação. Porém, foram interrompidos no caminho pela polícia que demandava o final imediato da marcha. Houve confronto e a polícia atirou abertamente contra os jovens, chegando a matar, oficialmente, 95 pessoas. Mas há estatísticas que falam em até 700 mortos.
Um dos primeiros mortos foi o jovem Héctor. A imagem de seu corpo já moribundo sendo carregado enquanto sua irmã o acompanha desesperada, rodou o mundo e virou um retrato da repressão sofrida pelos negros baixo ao Apartheid.
Em 1990 o memorial em homenagem a Héctor e a todos aqueles que morreram ou foram agredidos durante as manifestações foi erguido na Rua Khumalo, no Soweto. Em 16 de junho de 2002, um museu dedicado à preservação da memória do levante de 1976 e de todos os eventos que o rodearam foi inaugurado ao lado do memorial. Hoje, o Héctor Pieterson Memórial e Museu é um dos “must see” no Soweto.
Vilakazi Street e Mandela’s House
A Vilakazi Street é a única rua do mundo onde residiram dois ganhadores do Prêmio Nobel, Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu.
Ao lado de Mandela, Desmond Tutu foi uma das figuras centrais do movimento contra o Apartheid. Iniciou centenas de protestos em locais públicos contra o governo sul-africano, mesmo assumindo posições altas no clero.
Como reconhecimento por seus esforços para promover a igualdade na África do Sul, Desmond Tutu recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1984.
A casa onde até hoje vive a família do reverendo fica a poucos metros da casa número 8.115, antigo domicílio de Nelson Mandela e atual museu “Mandela House”. O museu é um dos principais pontos de visitação do Soweto e retrata, através de som, vídeos e painéis, a vida de sua família durante e após o regime do Apartheid.
Kliptown Open Air Museum
O museu ao ar livre de Kliptown é dedicado a Walter Sisulu, outro grande expoente na luta contra o Apartheid. O local do museu tem uma importância simbólica muito grande para a história do país. Foi ali que nos dias 25 e 26 de junho de 1955, uma convenção nacional de movimentos progressistas contra o Apartheid teve lugar e elaboraram uma “Carta de Liberdade” para uma África do Sul democrática do, então, futuro.
Kliptown foi escolhida porque era uma área multi-racial, de propriedade própria, originalmente destinada a ser um “amortecedor” entre o Soweto e Joanesburgo. Aqui “um parlamento do povo”, o Congresso do Povo, criou a Carta da Liberdade, que agora é a pedra angular da Declaração de Direitos e da Constituição da África do Sul.
Orlando Towers
Mas o tour pelo Soweto não é só sobre história. Desde 2008 as Orlando Towers passaram a funcionar como um centro para prática de esportes radicais para os mais aventureiros.
Criadas como torres de resfriamento de uma termoelétrica em 1955 e que funcionou até 1998, as torres viraram um dos maiores murais da África do Sul e também local para os amantes de adrenalina em 2008.
Atualmente, além de proporcionar um belo visual devido as pinturas dos famosos filhos e filhas do Soweto é local para a prática do bungy jump, swing jump, scad freefall e base jumping. E para os “um pouco menos loucos por adrenalina” tem o elevador que te leva até um ponto de observação, de onde se tem uma vista privilegiada da cidade, além ter uma área para paintball.
Tudo isso em um único lugar! Vale muito a pena conhecer!!!
💰 Preços por pessoa para Jul/2017 (aberto somente de quinta a domingo)
Swing: USD 34,00
Paintball: USD 13,00
Scad freefall: USD 30,00
100m bungee: USD 42,00
Base jumping: USD 15,00
Lift to viewpoint: USD 6,00
Abseil and rap jump: USD 34,00
Fnb Stadium Soccer City
Construído em 1989 e remodelado para a Copa de 2010, o Soccer City, foi palco da partida inaugural e da final da Copa do Mundo de 2010.
O estádio que também é chamado de “Cabaça” devido a sua aparência com o pote africano, foi local da última aparição pública de Mandela durante a partida decisiva da copa.
É possível fazer um tour por lá, passando pelo vestiário, túnel, arquibancada, áreas vips e gramado. A visita acontece diariamente, exceto em dias de jogo, tem duração de 1:30h e custa aproximadamente USD 4,50.
Orlando Stadium
Situado no coração do Soweto e casa de um dos principais times da liga sul-africana, o Orlando Pirates, o Orlando Stadium foi inaugurado em 1959 e reconstruído para a copa de 2010.
Atualmente o estádio é uma arena multiuso e abriga jogos de rúgbi, boxe e shows, além das partidas de futebol. Já foi palco para o show de artistas como: Shakira, Alicia Keys, Black Eyed Peas e ali também seria o ponto de encontro dos estudantes no trágico evento ocorrido em junho de 1976, como vimos mais cedo.
Aqui também é possível fazer um tour pelo estádio ao custo de USD 4,50 por pessoa.
Bara Taxi Rank
Devido principalmente ao “Group Areas Act” de 1950 que determinava as áreas em que cada pessoa poderia viver de acordo com a cor de sua pele, levando os não brancos a residirem em regiões afastadas do centro das cidades (nas townships), é que surgiu o maior e mais usado sistema de transporte público da África do Sul. Os táxis, como são chamadas as minivans, são responsáveis por mais de 70% do transporte público local e as “estações” são conhecidas como “ranks”.
Dentro deste cenário foi que surgiu o Bara Taxi Rank, o maior de Johanesburgo, e que durante muitos anos foi o único meio de ligação entre os moradores do Soweto com o centro de Joanesburgo.
Lá é possível se ter uma real experiência do dia-a-dia, muitas vezes ainda meio caótico, do sul-africano. Uma vez aberta a porta da lotação, os mais rápidos garantirão seu lugar, sem se importar muito com a idade ou sexo das demais pessoas que também aguardam pelo transporte.
No Bara Taxi Rank também há um mercado de rua onde você poderá provar duas iguarias locais, o “Runnaways” (pé de galinha assado/frito) e o “Smily’s” (cabeça de bode). Yumi 😋 Obs.: não tivemos coragem não…rs
O Soweto é definitivamente um “must see” se você estiver em Joanesburgo. Deixará sua viagem muito mais rica e interessante. E possibilitará um contato e entendimento maior do dia-a-dia dos locais e do caminho deste grande país rumo à democracia.
Como chegar no Soweto
Nós fomos até o Soweto utilizando os serviços do ônibus de turismo hop-on-hop-off. Aqueles famosos ônibus de dois andares. Mas para o tour pelo Soweto você troca o ônibus por essa pequena van, da foto abaixo. O tour é acompanhado por um guia que vai explicando um pouquinho sobre a história da cidade.
Aliás, foi com esse mesmo ônibus que nós exploramos os principais pontos de Joanesburgo. Temos outros post específicos, caso precise de dicas sobre o que fazer na cidade 😊
Onde se Hospedar em Joanesburgo
Em nossa última passada por Joburg, como também é chamada a cidade, nós acabamos usando o couch surfing. Mas, de maneira geral, qualquer hotel em Sandton está bem situado para quem está na cidade fazendo turismo. E como já passamos várias vezes na cidade quando ainda moravamos em Moçambique, preparamos uma lista com várias sugestões.
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✅ Planejando uma viagem para a África do Sul? Veja todos os posts que escrevemos sobre o país:
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E não é que o Lázaro também sabe escrever além de apreciar uma cervejinha?! Hahaha Adorei o post! Bem escrito e informativo. Daqueles que a gente não consegue parar de ler! Parabéns, casal! Cada vez mais esse blog é o meu favorito! Beijão!
Obrigada pelo carinho, Ray!
Lázaro mandou bem mesmo, né?
Beijos!
“Sendo o único lugar do mundo onde teve na mesma rua dois ganhadores do Nobel da Paz, Arcebispo Desmond Tutu e Nelson Mandela”
Gente, nunca imaginei que isso pudesse acontecer
E quantas coisa pra fazer, achei que soweto fosse só um bairro pequeno em uma cidade grande!
Lázaro, você escreveu demaiiisssss!!!! Cánimo, abre o olho senão Lázaro toma posto de escritor “oficial”
Brincadeira, meninos! Lindo ver que os 2 mandam super bem
Mandou super bem, né Mi?
Meu orgulho esse menino!
Beijos pra vcs tb!
muito bom o post! parabéns! uma dúvida apenas. A minivan do hop-on-hop-off no soweto segue a mesma lógica? dá para para em algum ponto e pegar a próxima minivan? Indo nela dá pra curtir o artesanato na rua, entrar na mandelas house, subir na orlando towers? ou é muito corrido? enfim, curtiram a minivan?
Oláaaa! Obrigada pela mensagem!
A minivan segue a mesma lógica. A única diferença do ônibus grande hop-on-hop-off é que há um tempo maior entre uma e outra – elas passam nos pontos em um intervalo de mais ou menos uma hora.
Você pode descer para visitar a casa de Mandela, andar pelas ruas por ali, comprar artesanatos e depois pegar a próxima minivan. O mesmo vale para a Orlando Tower.
Abração!