O outro lado de largar tudo para viajar pelo mundo

Largar tudo e passar semanas, meses ou anos viajando pelo mundo é parte do sonho de vida de muita gente. Foi o meu. E ainda é…

Quando você começa a planejar uma viagem longa e quando começa a ler os mais fantasiados posts que pipocam aos montes na internet, você ainda não tem ideia do que lhe aguarda. Uma viagem de volta ao mundo é uma experiência única, vale cada centavo e cada esforço investidos. Uma viagem de volta ao mundo dá mais sentido à vida, nos faz crescer e nos arranca da nossa zona de conforto. Mas ela traz uma série de desafios que podem se tornar pesados com o avançar do caminho…

E não! Este não é um post triste e depressivo. Nem tampouco um artigo para fazer com que pessoas mudem de ideia ou desistam de seus sonhos. Este é só um relato feito por mim, de coração aberto, para mostrar que nem tudo são flores e que a felicidade estampada nas redes sociais sempre tem um lado B que a maioria das pessoas não comenta.

O sol se pondo em Cape Town, na África do Sul

Neste primeiro ano viajando pelo mundo eu poderia listar as seguintes realidades – não as chamarei de “cruéis” pois elas fazem parte da vida e SEMPRE trazem grandes aprendizados:

1) Você se afastará de muitas pessoas

Mesmo com toda a tecnologia que existe atualmente, que te permite “estar” em vários lugares e com várias pessoas ao mesmo tempo, saiba que o fato de estar longe fisicamente vai te afastar de muitas pessoas. E quando eu digo muitas, é porque são MUITAS mesmo.

Não adianta a promessa de que vocês vão se falar todos os dias. Com o tempo “todo dia” muda para toda semana, depois para todo mês, depois as conversas se resumem a uma vez por ano, somente nos aniversários e olhe lá.

Mas a parte boa desse afastamento natural é que você descobrirá quem são seus verdadeiros amigos e saberá quais são as pessoas que verdadeiramente se importam com você. E isso é maravilhoso.

2) A saudade vai apertar

A saudade não tem data marcada para apertar. Aliás, ela não tem data marcada e nem escolhe o lugar. Ela surge do nada, no meio daquela cidade que tem a praia mais paradisíaca que você já viu na vida. Ela aparece no meio daquele bar lotado de gente descolada. Ela te atinge em cheio, como um soco no estômago, assim… do nada. E a saudade machuca mais quando é domingo.

No domingo, quando as famílias estão reunidas, quando os amigos fazem churrasco. A saudade sabe quando é domingo. E ela espera a semana toda para aparecer justamente neste dia. Eita “sentimentozinho” cruel esse aí 😕

3) O apoio que você precisa muitas vezes vem de desconhecidos

Você decidiu viajar o mundo e escrever um blog de viagens para, quem sabe, tentar ganhar um dinheirinho extra. Pois meu amigo, já vou lhe avisando: sabe quem é que vai ler seu blog e te dar aquela injeção de ânimo? Muitas vezes alguém que você nunca nem viu na vida.

Eu tenho a mais plena e absoluta certeza de que seus amigos e familiares não o fazem por mal. Mas as pessoas que você mais ama não serão (via de regra) seus principais leitores e apoiadores. E até que você possa entender esse processo vai ser meio tenso. Mas depois você acabará percebendo que a vida é corrida mesmo e que isso não é necessariamente falta de amor. É um processo normal.

4) Você criará laços com pessoas que nunca mais verá na vida

Ou não. Já que tem muitas pessoas que a gente acaba reencontrando pelo caminho. Mas no geral, durante o percurso você criará laços afetivos com pessoas com as quais você nunca mais tomará aquela cerveja gelada ou aquele café revigorante.

Na verdade, esses amigos da estrada são presentes do universo em nossas vidas. Já que alguns amigos que ficaram para trás acabam se distanciando, estas novas amizades surgem como pequenos acalantos enviados pelo universo para lhe ajudar a enfrentar os dias mais nebulosos.

Sou grata a todos os amigos que a viagem me trouxe. Fiz até um post sobre eles – clique aqui para ver.

5) O medo também surge do nada

Você teve uma baita coragem na vida: largou tudo, colocou a mochila nas costas e partiu rumo ao desconhecido. Muitos vão admirar sua bravura e terão inveja do fato de você ser tão destemido. O que ninguém sabe é que o medo arrebata você no meio do caminho também.

O medo, em doses moderadas, é super importante para nossas vidas. Ele nos alerta quanto aos perigos, nos dá uma dose (as vezes muito necessária) de cautela e não há nada de errado com ele. O que me parece “errado” é quando o medo passa a ser fator determinante para congelar sonhos. Quando ele te bloqueia e te impede de seguir adiante.

Meu medo surge quando eu penso no futuro e vejo que já não me enquadro ao que eu fazia antes, ao estilo de vida que eu levava antes, ao emprego que eu tinha antes. Meu medo surge quando eu penso no que será de nossas vidas quando a viagem terminar. E quando eu penso nos boletos então!? Ái Jesus, que medo que me dá 😱

Mas também é essa incerteza que me move, que me guia e que me mantém na estrada. Só quem viveu algo parecido conseguirá entender este sentimento tão contraditório ao qual me refiro. O medo que bloqueia é o mesmo medo que me move.

6) Arrumar a mochila na hora de partir é um saco!

Arrumar a mochila (ou a mala) para conhecer um novo destino é uma delícia! É algo maravilhoso e meu ponto não é esse.

Me refiro a arrumar a mochila a cada semana ou a cada “X” tempo para trocar de hotel ou de cidade. Isso sim é um saco!

Obs.: Esse tópico tem a maior cara de “mimimi”, eu sei. Me julguem 😬

Em um determinado ponto da viagem você sonha mesmo é em ter um guarda-roupas e que possa passar pelo menos um mês sem pensar em empacotar sua vida e colocá-las nas costas de novo.

7) Então, moça maluca que escreve esse post, devo desistir?

Claro que não. Eu não penso em desistir nem por um segundo. E você também não deveria!

Estou escrevendo este post em uma segunda-feira de tempo nublado, ouvindo uma música deprimente e sentindo falta de todas as pessoas que deixei para trás. Mas apesar do nó na garganta que sinto agora, eu não penso em desistir.

Recentemente perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida. A notícia nos atingiu como se um trator. Porque esse é o maior medo de quem está longe de “casa”, o medo que o telefone toque no meio da noite com aquela notícia que você não quer ouvir. Mas essa perda tão dolorosa também me trouxe algumas lições que tenho lutado para absorver. E gostaria de dividir algumas delas com vocês:

A vida é breve demais para sermos limitados por nossos medos. Ela é boa demais para nos mantermos presos às nossas queixas. E é única demais para que não a vivamos em plenitude.

Obrigada por ler até aqui. Aproveite e veja também:

🌎  Acompanhe nossa viagem de volta ao mundo através de nossa página no Facebook:

https://www.facebook.com/casalwanderlustoficial

32 Comentários

  1. Ahhhh minha querida, que emocionante esse post, juro que sou capaz de entender cada “ pontuação “ que você tão bem relatou… A vida acontece a todo instante e os maiores desafios estão dentro de nós mesmos. Nada no mundo é tão perfeito que vá te feliz eternamente e nada é tão ruim que vai nos fazer desistir para sempre…. Caminhando e cantando uma nova canção e viver sempre uma nova emoção kkkk Beijos Cumade! Avante!

  2. Ca!! Não poderia me identificar mais com seu texto! Sério! Apesar de não estar Viajando por aí, minha mudança para o Butão foi muito semelhante e exigiu um pouquinho de coragem pra vencer o medo, mas me sinto muito assim! Como a saudade aperta!!!

    • Muita gente que mora longe se identificou com o texto, Li.
      Como a saudade pega a gente, né? Especialmente no domingão…
      Mas o universo é tão maravilhoso que ele sempre acaba colocando pessoas boas no nosso caminho pelo mundão afora. Assim a jornada fica mais leve e nós ficamos mais fortes.
      Já já te dou um abraço aí no Butão!
      Bjo

    • Vocês estão na lista dos amigos verdadeiros e que nós sabemos que SEMPRE estarão aí (ou em qualquer outro lugar) para nos receber, nos apoiar e nos engordar com as comidas deliciosas feitas por você.
      Obs.: Pensei no “X-cake” agora…hahaha.
      Saudades!

  3. Admiro sua coragem e a do Lázaro, em sairem do lugar comum, e viverem essa experiência. Viver o “não lugar”, não é fácil para nós que fomos criados para plantarmos raizes, e nos estabelecermos em bases fixas, castelos, bunkers, há muitos milhares de anos. Isso advém da nossa necessidade de proteção e segurança, contra predadores maiores e mais fortes. Hoje a sociedade humana está também saindo de seu lugar comum, e mudando constantemente. Essa mudança, está tornando nossa presença mais fluída, transitória, impermanente, até mesmo quando vivemos no mesmo lugar.Viva bem esse momento de vocês, extraindo ao máximo o que ele trouxer. Quando a viagem acabar ( se é que ela acaba ), vocês usarão as lições aprendidas para viver o novo momento que virá. Beijos boa semana

    • Samuca,

      Você é sempre tão querido com a gente que mesmo não nos vendo muito eu já lhe considero quase da família.
      Sou doida para que você conheça logo o Lázaro e que possamos passar horas juntos conversando (e bebendo cerveja talvez?).

      Sábias palavras envolvidas em muita delicadeza. Obrigada por sempre estar “presente” em nossas vidas, amigo querido.

      Bjão pra vc!

  4. Uau. Me tocou demais seu post. Me vi em muitas das suas observaçoes. Gratidao pela coragem de compartilhar sua alma conosco. beijinhos e abraços.

  5. Aiiii que post mais foda!!! Mas sei o quanto vc luta pra esse lado B não impedir de realizar seu sonho!!!! Siga em frente! Te amo!

  6. Oi Camila a vida e assim mesmo estando perto ou estando longe nossa cabeça faz vários parafusos e como entender né .mas sentimentos são sempre bom nos faz voltar as raízes. Por isso vem a saudades .mas nada como levantar olhar para frente e continuar a caminhada …beijos fica com Deus ele guarde e te livre sempre de todo mal . Seu sorriso será nosso sorriso .Marisa e Domingos

  7. Sempre há os dois lados, Camila! E são importantes para nos colocar em equilibrio. Existe esse “lado B” dos que optam em partir, o “lado B” de quem opta em ficar, às vezes, e em parte, até para suprir umu pouco a ausência dos que optam pela partida. De qualquer forma acredito que as escolhas que fazemos, as verdadeiras, não cabem arrependimentos! Autorrealizacao e a felicidade que advém podem estar onde nascemos ou do outro lado mundo! Se essa é a “necessidade” de vocês vão em frente! Mantenham o desejo de viajar e até a volta!

    • É verdade, Lu! Talvez o afastamento que tanto machuca as vezes é a maneira que aqueles que ficaram longe encontraram para lidar com a nossa ausência.
      Não tenho arrependimentos não, só saudades mesmo.
      Um beijo enorme pra vc e ate já já 🙂

  8. Parabéns pelo texto e por esse blog sensacional, acompanho vcs diariamente! Muito obrigadoo por tanta informação ; ))
    Jonas / Blumenau/SC.