Conhecendo uma autêntica tribo Masai, na Tanzânia

Em nossa viagem de volta ao mundo nós sempre tentamos priorizar o contato com as pessoas locais, com os moradores dos lugares que visitamos. Muito além das atrações turísticas dos países, nós gostamos mesmo é de saber quem são as pessoas que ali habitam, quais são seus costumes, suas crenças, seus sonhos e medos. Pois, para nós, esse tipo de contato torna nossa experiência de viajar pelo mundo ainda mais rica! E foi assim, fazendo novos amigos, que nós conhecemos o Simon, da tribo Masai, na Tanzânia.

Tribo Masai na Tanzânia

Nós e a “pequena” família do Simon

O Simon trabalhava como segurança em um dos hotéis de Zanzibar. Ele foi o Masai mais simpático que cruzamos pelo caminho desde que chegamos na Tanzânia. Nós passávamos por ele todos os dias e sempre éramos recebidos com um sorriso largo. Até que um dia nos encontramos em um restaurante local, conversamos um pouco e ele acabou nos convidando para ir até a vila onde sua família morava. Nós nos sentimos honrados, tratamos logo de aceitar o convite e partimos para este, que foi o melhor fim de semana da viagem. 

Os Masais

Os Masai ou Massais são  um grupo étnico africano de seminômades, que habitam o sul do Quênia e o norte da Tanzânia. É um povo bastante conhecido por sua aparência e especialmente pelos seus costumes. Quem nunca os viu em algum programa da National Geographic dando altos pulos com seus tradicionais tecidos vermelhos envolvendo seus corpos? Ou então, quem já não ouviu as histórias de que os Masai bebem leite misturado ao sangue de vaca? Claro que muitas destas curiosidades fazem parte de tradições antigas que tem se perdido com o tempo, mas os Masai ainda mantém uma série delas.

A classe social de um Masai é determinada pelo número de vacas e cabras pertencentes à família. As casas são construídas com esterco de vaca e barro. E durante a noite as vacas são conduzidas ao centro da vila, onde ficam protegidas dos animais selvagens.

Aliás, essa foi uma parte muito interessante de nossa visita à vila do Simon, pois ele nos levou a um autêntico Mercado Masai. Masais de toda a região vão até o mercado de Handeni para fazer negócios. Não havia nenhum outro turista ali além de nós.

Mercado Masai em Handeni

Antigamente era comum para os homens da tribo Masai terem mais de uma esposa, o pai do Simon por exemplo possui 3. Porém, com o passar dos anos isso tem mudado. O Simon se casou apenas uma vez e nos disse que a grande questão é que manter mais de uma família tem se tornado cada vez mais difícil. Sem contar que para se casar é necessário pagar um valor referente a 14 vacas para a família da noiva.

Um dos irmãos do Simon e sua família

Nossa chegada na Vila Masai

Em Handeni nós pegamos um tuk-tuk até a vila onde a família do Simon vive. Passamos por estradinhas de terra estreitas e bem deformadas. Foram 50 minutos chacoalhando no tuk-tuk.

Nossa chegada foi uma festa! Como o pai do Simon tem 3 esposas, ele tem um monte irmãos. Assim que nós chegamos a criançada veio correndo. O Simon levou balas e pirulitos. Foi aquela festa! Uma moça se aproximou e abaixou a cabeça, para que o Simon a tocasse. E ele nos explicou que é um sinal de respeito aos mais velhos, uma espécie de benção. Achei tão bonito!

Crianças Masai

Fomos recebidos com esses sorrisos! Quem é que aguenta!?

Mas não paramos por muito tempo, fomos logo para outro local, no meio da floresta, onde estavam nos esperando com um churrasco. Não era churrasco de carne de vaca pois elas são o principal meio de sobrevivência dos Masai. As vacas custam caro e só são servidas como refeição em momentos muito especiais, que vão além da visita de dois brasileiros curiosos.

O churrasco era de carne de cabra, eles sacrificaram um de seus animais especialmente para nos receber. Dois irmãos do Simon acenderam o fogo com gravetos e ajeitaram os pedaços de carne em espetos feitos com galhos de árvore. Assim que chegamos o Simon ajeitou um tronco velho e disse: “cadeira Masai”.

Aguardando o jantar Masai – o cachorrinho aguardava ansioso também…rs

Eles recolheram galhos com folhas verdes e os espetos com carne assada foram colocados em cima, essa foi a nossa mesa. Todos nos sentamos em círculos e a carne começou a ser servida. Era um esquema de rodada, cada um sendo servido por vez. As coxas da cabra foram servidas cozidas. Lázaro provou e adorou 😋

Nosso jantar Masai: churrasco de cabra

A Vila Masai

Sem energia elétrica na vila, voltamos para a casa do Simon sob a luz da lua, que mantinha a noite iluminada. Nos sentamos em círculo novamente. Toda a criançada veio participar. Conhecemos um irmão mais velho do Simon que falava inglês super bem. Diferentemente do Simon que aprendeu na praia, o irmão aprendeu na escola, mas nos disse que acabou não completando os estudos.

A casa do Simon e alguns de seus irmãos mais novos

Logo chegou a hora do banho. Ninguém tomou banho à noite, só a gente. Prepararam um balde de água (que poderia ter sido quente, mas como não queríamos incomodar dissemos que podia ser fria mesmo). O banheiro muito simples, assim como todas as casas. De barro, sem chuveiro, com a privada naquele modelo “buraco no chão”. Levamos nosso celular para ter alguma luz e tomamos nosso banho.

Depois do banho nos sentamos com a família para tomarmos um chá. O chá era feito com uma mistura água, leite e gengibre, e era super bom. Enquanto aguardávamos o chá, que estava sendo preparado pelas mulheres, conversamos sobre tudo, sobre a vida e sobre felicidade. Perguntei ao Simon e ao irmão o que os fazia felizes, o que era felicidade para eles. E, como não podia ser diferente, a resposta foi a mais bonita. Disseram que felicidade para eles é estar com a família e ter uma vida boa, com comida suficiente. E essa foi minha resposta também, que estar com a minha família e amigos é o que me deixa feliz. Afinal, o que é felicidade senão um resumo dos momentos que passamos ao lado daqueles que amamos!?

Aprendizado para a vida

Começamos a falar sobre felicidade em geral. Comentamos sobre pessoas famosas (pessoas ricas e que teoricamente têm tudo) que acabam tirando suas próprias vidas porque não veem mais sentido em viver. O irmão do Simon não se conformava e dizia: “por que tiram a própria vida?”. E nós tentávamos explicar que muitas vezes era porque a pessoa não tinha paz, não tinha amor e nem amigos de verdade. E de repente ele disse “mas se você quer ter amigos é só ir aos lugares e conversar com as pessoas, aí vai ter amigos.” E era exatamente isso que estávamos fazendo ali, naquela noite, fazendo amigos.

Falamos de diversos assuntos. Tínhamos tanto conhecimento a dividir e tanto a absorver. Da família do Simon poucos são os que já saíram da vila. Quase ninguém conhece Dar es Salam e raros são os que já viram o mar. Imagine só? Moram pertinho das praias mais lindas que já vimos na vida e sequer conseguem desfrutá-las.

As crianças em volta da fogueira

Enquanto me perdia em meus pensamentos, de repente as crianças começaram a acender uma fogueira. Corri para pegar a câmera e quando me viram todos correram para cantar e dançar. Foi tudo muito rápido, não consegui filmar nem fotografar a dança. É um momento que ficará guardado apenas em minha memória.

Depois ficamos ali, bebendo chá, e meus pensamentos não paravam. Enquanto olhava as crianças sentadinhas no chão, prestando atenção a uma conversa que elas não entendiam (somente o Simon e o irmão falam inglês), elas ficavam ali, entretidas com a conversa de dois estranhos. Não havia energia elétrica, tão pouco tablets, TV e smartphone, a diversão delas vem de outras fontes, de outras brincadeiras, de uma maneira mais original, talvez?

Uma das minhas fotos favoritas, que me fez refletir sempre que vejo…

Reflexão

Perguntei ao Simon se ele tinha fotos de seu casamento para nos mostrar. Ele disse que não. Explicou que na época ele não tinha smartphone e nem outros meios para registrar o momento. Nos mostrou poucas fotos impressas de sua família, que alguém deve ter tirado e revelado para eles. Diferentemente de nós, o Simon não tem registro impresso de seus momentos vividos. E confesso que isso me fez pensar, mais uma vez. Estou o tempo todo gravando e clicando meus momentos para o blog. Mas será que os tenho vivido em toda a sua intensidade? E você? Tem verdadeiramente vivido seus momentos?

Onde nós Dormimos

Na hora de dormir o Simon nos cedeu a sua casa, não só sua cama, mas a casa toda. A cama era feita de madeira, com uma esteira em cima e um pedaço de couro de vaca, que ele logo nos apresentou como “cama Masai”. E antes de dormir o anúncio: “durante a noite passam alguns ratos pelo telhado, mas não se preocupem”. 😱

Cama Masai

Nossa cama na casa do Simon

Nós dormimos super bem. E no dia seguinte acordamos às 6h. Serviram um café da manhã com chá e pães, comprados em outra vila, uma delícia!

Depois alugamos uma moto para nós 3 (sim, nós três em uma moto) e saímos para explorar a região.

Nosso café da manhã

Nossa primeira parada foi no ponto construído para que as vacas da região possam beber água e depois seguimos até a vila. Paramos em uma igreja porque a música me chamou a atenção. Era domingo, dia de missa. Não vou entrar na questão da evangelização, cuja qual não concordo muito, mas de todo modo, as músicas cantadas na língua Masai eram belíssimas, um ambiente de paz e amor. Ficamos alguns bons minutos ali.

O pessoal da vila na missa de domingo

Depois fomos até uma montanha, que tivemos preguiça de subir, e voltamos para o almoço. Carne de cabra cozida, arroz e papa foram servidos. A papa já era nossa conhecida desde Moçambique. É uma espécie de polenta feita sem tempero algum, mas que ficou ótima com o molho da carne bem temperadinha. A papa é muito comum em todo o continente africano.

Nosso almoço: arroz, papa e carne de cabra cozida

Sessão de Fotos

Depois do almoço voltamos até a casa do Simon e toda a família esta lá, nos aguardando. Como nós havíamos prometido fazer uma sessão de fotos com eles, todos estavam prontos. As roupas eram as mesmas, mas as meninas se enfeitaram colocando os colares utilizados em dias festivos. Emprestaram uma roupa para mim e ajudaram o Lázaro a vestir seu tecido Masai.

Nos primeiros cliques todos estavam tímidos, mas com o tempo até que conseguimos alguns sorrisos. Foi um momento lindo!

Todos corriam para ver como as fotos tinham saído. E quando se viam no visor da câmera era só risada.

Voltamos para a cidade e relevamos algumas fotos para presentear a família. O Simon nos acompanhou até o hotel e nos despedimos por ali. Fizemos promessas de manter contato e voltarmos para visitá-lo, um dia.

Como chegar em Handeni

No Bus Rank de Dar es Salam nós pegamos um ônibus até a cidade de Handeni. O bilhete custou TZS 10.000,00 ou USD 4,45 por pessoa e a viagem durou cerca de 5 horas.

Quanto Custou

Nós pagamos as nossas despesas e as despesas do nosso anfitrião. Nada mais justo, certo?

Nós gastamos USD 40,00 por dia, por pessoa. Incluindo todas as nossas despesas, as despesas do Simon, uma gorjeta e o ticket do ferry de Zanzibar até Dar es Salam, que custa USD 35,00 por pessoa, valor para estrangeiros, locais pagam USD 12,00.

Vídeo

Veja o vídeo que fizemos sobre nossa visita à vila Masai do nosso amigo Simon:

Como vivenciar a mesma experiência

O Simon nos autorizou a divulgar o telefone dele, para aqueles que também quiserem viver essa experiência. Nós fomos os primeiros a dormir em sua casa, mas ele já havia acompanhado outra família até a vila.

Já tivemos a experiência de ir até uma tribo montada para “turista ver” na Suazilândia. Não temos nada contra, até mesmo porque o dinheiro arrecadado acaba sendo utilizado para proteção e manutenção dos costumes do povo. Mas nós achamos a experiência com o Simon sensacional! Primeiro porque não teve nada de turismo envolvido, nenhuma agência, ninguém explorando e ninguém sendo explorado. Foi um encontro de amigos e uma troca de gentilezas e tivemos uma experiência ímpar!

Ganhamos muito nos poucos dias que passamos juntos. Aprendemos a olhar para nossas próprias vidas com outros olhos. Aprendemos a valorizar ainda mais tudo o que nós temos: família e amigos.

Deixamos aqui os contatos do Simon e uma chuva de fotos da criançada, para alegrar o seu dia e aquecer seu coração: +255 773 388 553 ou +255 765 927 324.

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19 Comentários

  1. Confesso que me emocionei..gostaria de viver uma fantástica experiência como essa vivida por vocês e com muita intensidade e muito aprendizado. Me fez recordar alguns lugares que conheci na região de Tete com o missionário Ezequias. Parabéns amigo por ter vivido esses momentos mágicos…o telefone do Simon já está anotado aqui.

  2. Que experiência incrivel! Estou indo pra Tanzania no próximo ano e se der tempo vou entrar em contato com o Simon. 🙂

  3. Emocionante Camila!!! Admirável sua coragem de desbravar o mundo e conhecer lugares inusitados e pessoas tão especiais, assim como você!!! Parabéns pela pessoa que você é e por nos permitir viver um pouco desses momentos junto com vocês!!! Um feliz e abençoado 2018, com mais momentos marcantes como esse!!! Bjs

  4. Olá tudo bem? Eu estou indo pra Tanzania em novembro e gostaria muito de fazer isso o que vocês fizeram, da TRIBO MASAI. Sou jornalista, extremamente curiosa e sempre quis fazer isso. Vocês podem me ajudar? J á me falaram que não é algo muito comum de fazer.

    • Olá Fernanda, tudo bem?
      Vou te passar o contato do Simon, nosso amigo Masai.
      Você pode entrar em contato com ele pelo WhatsApp neste número:
      +255 765 927 324
      Diga que você pegou o contato comigo 🙂
      Abração!